A Voz do Bispo › 20/01/2023

“Não admitais divisões entre vós…”

Geralmente a fonte de inspiração ao escrever minha mensagem semanal é o evangelho do Domingo. Mas para essa semana lendo as leituras me chamou mais atenção a primeira carta de São Paulo aos Coríntios 1, 10-17, que a meu ver pode ser de iluminação para o momento histórico que estamos ainda vivendo a nível de Brasil.

Aquilo que Paulo escreve à comunidade cristã de Corinto cai muito bem para muitas comunidades nossas, até mesmo famílias e, inclusive, a nível nacional. Não tem como negar que o clima polarizado das últimas eleições criou muitas tenções em todos os âmbitos da vida em sociedade. As divisões nunca são coisa boa, não são de Deus. Podemos ter pensamentos diferentes, visões diferentes, pareceres diferentes, isso em função do respeito à liberdade do ser humano, mas não por isso se justifica o litígio, a inflexibilidade, a divisão. A aceitação da diversidade é condição para viver na unidade. Aceitar os resultados das urnas e juntar esforços para o bem de todos faz parte do regime democrático próprio do Estado de Direito.

O Apostolo das gentes escreve: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos e concordes no pensar e no falar” (1,10). Esta afirmação categórica de São Paulo vale especialmente para nós cristãos, seja com relação a unidade das várias confissões cristãs e, ainda mais, na relação entre pessoas e comunidades na nossa Igreja Católica.

Ouso afirmar que, se faltar essa disposição ao diálogo, ao entendimento sereno, nos reduzimos a uma ONG. Não seremos uma comunidade ou instituição verdadeiramente cristã. Para não ser mal compreendido, adianto que não tenho nada contra as organizações não governamentais, pelo contrário as estimo e valorizo muito. Em muitas situações nos dão exemplo de unidade e coerência interna. E isso, movidos por um pensamento puramente humanitário. Muito mais deveria ser para nós que temos como fonte de inspiração os princípios e os valores do Evangelho.

“Sede concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós. Sede bem unidos e concordes no pensar e no falar”. Será isso possível de ser praticado ou é pura utopia? Claro que sim. Só será possível se assumido como ideal de vida, apostando na força da graça de Deus pela fé. Fácil nunca será. Mas quando tomamos consciência da importância da unidade e concordes no bem a ser buscado, as divisões serão superadas. Unidos somos mais fortes. Divididos muito frágeis e vulneráveis.

Como é bom e bonito quando vivemos juntos como irmãos, como família, como comunidade, como sociedade organizada onde os direitos e deveres são levados a sério! Não permitamos que as divisões entrem em nossas vidas.

Para refletir: Sou uma pessoa que sabe conviver com todo tipo de pessoa? A minha presença cria comunhão e paz com quem convivo? Faço tudo o que está ao meu alcance para evitar divisões? O que deve mudar em minhas atitudes para criar fraternidade?

Textos Bíblicos: Is 8,23-9,3; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4, 12-17; Sl 26 (27).