A Voz do Bispo › 22/09/2023

A justiça do Reino

Para compreender o evangelho de Mt 20,1-16, é essencial aceitar o convite de Isaías para voltar a Deus, pois os pensamentos e caminhos Dele diferem dos nossos. Poderíamos dizer que a métrica de Deus é distinta da nossa.

Jesus conta aos discípulos a história do Reino dos céus, que se assemelha ao patrão que saiu para contratar trabalhadores para sua vinha. Ele saiu de madrugada e contratou alguns por uma moeda de prata por dia. Novamente, saiu às nove horas e fez o mesmo, assim ao meio-dia e às 17 horas, prometendo pagar o que fosse justo. Na hora do acerto, chamou os da última hora e pagou uma moeda de prata, e assim sucessivamente a todos. Os trabalhadores das primeiras horas começaram a reclamar, alegando que o patrão estava sendo injusto ao pagar a todos o mesmo valor. O patrão respondeu: “Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Ou estás com inveja porque estou sendo bom?”

Se não lermos com atenção e procurarmos entender o pensamento de Jesus, podemos cair no mesmo erro dos trabalhadores da primeira hora, julgando que o patrão estava sendo injusto por pagar a todos o mesmo valor. Isso ocorre porque estamos contaminados pela mentalidade da meritocracia, em vez da justiça distributiva, a justiça do Reino.

A justiça do Reino se manifesta nas ações de Deus, o dono da vinha, que cumpre sua palavra e atende a todos, convidando-nos a adotar atitudes novas. Trabalhar em sua vinha não torna uns mais merecedores que outros. Cada um de nós, com nossa própria história, ao seguir a justiça do Reino, entra na dinâmica do amor de Deus, tornando-se objeto de Sua bondade e misericórdia.

A justiça de Deus iguala a todos por cima, elevando a dignidade de todos os Seus filhos e filhas. Esse evangelho nos convida a uma lógica diferente, não baseada no mérito, mas na solidariedade que aproxima e inclui. Essa é a lógica do Reinado de Deus. Não devemos nos considerar mais merecedores do que outros. O que importa é sermos mais sensíveis e permitir que os problemas alheios nos toquem. Não deixemos que a inveja contamine nossos corações.