A Voz do Bispo › 10/03/2023

Dá-me de beber

Seguindo nossa caminhada quaresmal e as reflexões da Campanha da Fraternidade, no primeiro domingo ficamos com a resposta de Jesus ao tentador: “O homem não vive somente de pão”. No segundo a revelação no monte aos discípulos: “Este é o meu Filho amado, escutai-O” com o convite a descer à planície sem medo. E esse terceiro é um encontro muito especial de Jesus com uma mulher a quem surpreendentemente pede: “Dá-me de beber”.

A atitude de Jesus que aproxima a samaritana sem discriminar, ao contrário de como faziam os seus conterrâneos judeus, mas incluindo e valorizando-a com sua realidade própria, seu habitat e o seu ser mulher nos chama atenção. Judeus e samaritanos buscam água na mesma fonte, junto ao poço de Jacó, não só uma água física, mas também cultural: a rica história de Israel.

Para a tradição judaica, o poço representa a garantia da água oferecida por Deus ao seu povo. Jesus ao sentar-se junto ao poço está revelando que agora o poço da água viva é ele. Quem o acolhe encontra o sentido profundo de sua vida, qual fonte de água cristalina que jorra para a vida eterna.

Como costuma acontecer nas catequeses do Evangelista João, Jesus acaba revelando à pessoa – nesse caso a mulher samaritana – sua identidade messiânica: “Sou eu, que estou falando contigo”.  Sem mais nenhum temor ela corre anunciar aos seus conterrâneos: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Messias?”

É bonito perceber a mudança de animo e de postura, não é mais Jesus a pedir: “Dá-me de beber”, mas ela mesma que suplica: “Senhor, dá-me sempre dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha que vir aqui tirá-la”.

Tudo indica que ela tinha suas crenças e convicções de fé, mas ainda lhe faltava algo. O encontro com Jesus provocou mudanças na vida pessoal, percebe que precisa dar um passo na sua experiência de fé: abandonar os maridos da idolatria para adorar a Deus Pai, em espírito e verdade. O encontro com Jesus é sempre revelador e libertador.

É para a liberdade que Cristo nos libertou. A verdadeira liberdade é capacidade de acolher e amar todas as pessoas, até mesmo os próprios inimigos, que na verdade não deveriam existir num mundo de irmãos.

Bebamos na fonte de água viva que é Jesus e seu Evangelho e nunca nos faltará a capacidade de reconhecermos a vontade de Deus, a sacralidade da pessoa e seus direitos fundamentais, entre estes: uma alimentação suficiente e saudável, como sugere a CF, obedecendo a ordem de Jesus: “Dai-lhes vos mesmos de comer!”

Comamos e bebamos até a saciedade desta fonte cristalina do Evangelho de Jesus. Ele pode chegar disfarçado em outras vestes, mas com o mesmo pedido: “Dá-me de beber”. Ou ordenando: “Dai-lhes vos mesmos de comer”.

 

Para refletir: Como Jesus pode se apresentar à porta da minha vida, hoje? Quais são as fomes e sedes principais das pessoas? O que aprendo da forma como Jesus se relaciona com a mulher samaritana? O que eu posso fazer para saciar a fome e sede das pessoas?

Textos Bíblicos: Ex 17, 3-7; Jo 4, 5-42; Sl 94(95).