A Voz do Bispo › 15/09/2017

Correção fraterna e perdão

Olhando numa visão real e coletiva da existência humana, concluímos que cada indivíduo deve auxiliar os outros nos seus momentos de fraqueza e desânimo. Nenhuma pessoa deve viver como uma ilha, introspectiva e despreocupada com os demais. O sentido pleno da vida é marcado pela convivência fraterna. Ninguém pode ser feliz sozinho.

Como esta convivência se dá entre pessoas com seus dons e limites, sempre terá conflitos e tensões, portanto será indispensável uma disposição ao perdão. E até onde vai o perdão, até sete vezes pergunta Pedro? Jesus responde: “não sete vezes, mas senta vezes sete”. Ou seja, sempre que necessário, sem limites como é o perdão de Deus.

As pessoas que erram precisam ser advertidas de seus atos irresponsáveis e não simplesmente condenadas sumariamente. A correção fraterna sincera e caridosa torna-se um ato bonito de responsabilidade de uns para com os outros.

A correção fraterna de uma má conduta é um fato delicado, porque pode causar constrangimento diante da comunidade de quem é corrigido, e para ser verdadeira deve estar fundamentada no respeito e no amor.

Em determinados atos, os recursos de correção passam para a área judicial. É por isso que estamos assistindo o vexame de muitas de nossas autoridades. Os rombos são muito grandes e a capacidade de conversão é impedida pelo deus dinheiro. A melhor correção seria a devolução do que foi desviado, mas poucas vezes isso acontece de forma satisfatória.

Quem ama faz de tudo para não praticar o mal e corrige-se de seus maus atos com muita facilidade. A fraternidade é divina e precisa estar acima dos interesses egoístas, daqueles que prejudicam a vida das outras pessoas. Nisso está centrada a mensagem cristã e os ensinamentos de Jesus Cristo contidos nos Evangelhos, que vê o outro como irmão e não como perigo e ameaça de vida.

Somente quem ama de verdade e tem fé faz a correção fraterna e concede o perdão. O perdão é um valor profundamente cristão e precisamos nos dispor a ele. Para o dinheiro roubado ao pobre não tem outro perdão senão a devolução devida.

Jesus nos diz que precisamos “perdoar de coração” ao irmão que erra e se arrepende, a semelhança do perdão de Deus, sem limites e condicionamentos. Para o injusto é exigido até o último centavo.

A correção fraterna e o perdão fazem falta em muitas famílias e comunidades. Quanto sofrimento por falta de perdão e muitas vezes por coisas insignificantes e mesquinhas. Quando entra questões de briga por herança então, nem se fala. Como é triste ver irmãos e, quando não pais e filhos brigados, com questões na justiça, não se falando e cumprimentando mais. Parece que os conflitos mais complicados para resolver são mesmo os do parentesco de sangue.

Acreditamos que sempre é possível superar mesmo os conflitos mais delicados com a ajuda da graça de Deus que trabalha no coração do homem. A consciência não deixa em paz, mesmo o mais duro de coração, se esse quer ser honesto consigo mesmo e um pouquinho humilde, por maior que seja a ofensa sofrida. As vezes a suposta ofensa pode ser fruto da imaginação ou da influência de pessoas mal-intencionadas.

Se Jesus levar a sério nossa oração: “Pai, perdoai as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, podemos ficar no prejuízo. A história que nos narra o Evangelho de hoje deve nos deixar todos de orelhas em pé e pedindo a Deus que nos dê o espírito de reconciliação e perdão. Muitas vezes me vem de rezar: “Perdoais as nossas ofensas muito mais do que nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Aprender a pedir e a dar o perdão faz parte de um processo de conversão continua que o cristão aprende do seu mestre Jesus: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Muitas vezes é assim mesmo, embora tendo razão quando nos embatemos com a ignorância, o único jeito é entregar para o Pai. Pois não há outro jeito mesmo que não seja o perdão.

É um tanto severa a conclusão do texto sobre o que nega o perdão: “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.

Verdade, é difícil esquecer ofensas que magoaram profundamente, mas é possível e conveniente não se deixar tomar pelo ódio e a vingança porque não fazem bem a nenhuma das partes. É melhor perdoar de coração o próprio irmão. Isso é condição de salvação.

Nós cristãos podemos colaborar muito no combate à violência, pela cultura do perdão. O Mundo precisa de perdão! Nós precisamos aprender a pedir e dar o perdão, fazermos a correção fraterna que nos ajuda a amar-nos uns aos outros como irmãos.

Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório

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