A Voz do Bispo › 05/08/2022

“Cara de padre”

O mês de agosto é dedicado às vocações. Nesta primeira semana, vamos refletir e rezar pelos ministros ordenados: diáconos, padres e bispos. Sabemos e acreditamos que o Batismo introduz a pessoa na vida em Cristo Jesus, sumo e eterno sacerdote da nova e eterna aliança.  O sacerdócio comum é dado a todos os que confessam a fé cristã. O ministério sacerdotal é o serviço específico confiado ao homem que sentindo-se chamado a uma entrega total de sua vida, única e exclusivamente ao anúncio do Evangelho, onde quer que Deus – através de suas mediações – os envie.

Devemos reconhecer que, hoje, não é fácil, mas não impossível, um jovem trilhar o caminho do Ministério Ordenado com suas exigências. Contudo, Deus continua passando e convidando jovens para trilhar esse caminho, da total entrega a serviço de Deus e dos irmãos. A resposta é sempre muito pessoal e implica uma grande liberdade interior e uma maturidade humana e espiritual particulares.

Muitos não conseguem entender como um jovem possa deixar tudo – família, sonhos e projetos pessoais – para dedicar-se totalmente à Missão. Há uma grande dificuldade de compreensão dos valores que acompanham o ideal da vocação sacerdotal.

Quando alguém me pergunta o que precisa para ser padre, hoje, respondo: “ser homem”, ou seja, “ser normal”. Então basta querer? Não, exatamente só querer, pois o chamado exige uma resposta pessoal de forma livre e consequentemente responsável. Não basta ter “cara de padre”? Independentemente do que se queira dizer com essa expressão, não é suficiente “levar jeito”, pois são necessários alguns requisitos humanos e espirituais de uma vida cristã pautada pelos valores do Evangelho.

O serviço que o padre presta é nobre e digno, surge e amadurece na comunidade de fé, desabrocha na perspectiva do Reino de Deus e do compromisso missionário. Quando o ministério ordenado é assumido livremente, com conhecimento de causa, com uma visão teológica e espiritual adequada, segundo a vontade de Deus e as orientações da Igreja, a pessoa experimenta uma grande alegria, sente-se interiormente satisfeita, preenchida pelo amor d’Aquele que tudo pode e nunca abandona seus eleitos.

O ordenado que procura viver bem e na fidelidade sua missão junto às comunidades a ele confiadas e aceita as exigências respectivas de bom coração, cria um vínculo de comunhão tão intenso e profundo com seu Deus que nada o poderá abalar ou abater.

Enquanto pessoas humanas, também os ministros ordenados são suscetíveis a fraquezas e fragilidades como todo cristão. Acredito que se forem sinceros e esforçados na vivência deste serviço, serão para as comunidades cristãs uma referência importante, não tanto por mérito pessoal, mas pela força da graça recebida no sacramento da Ordem.

Digo especialmente aos jovens: não tenham medo de encarar essa aventura. Pode não ser fácil, mas é bom ‘ser padre’. Não me arrependo de ter dado o meu “SIM” ao chamado de Deus. Aparentemente não tinha “cara de padre”. Hoje, me dizem que tenho até “voz de padre”. Sinto-me muito contente e realizado na vocação sacerdotal.  Se pudesse voltar atrás faria tudo de novo.

 

Para refletir: Qual é a minha relação com os ministros ordenados de minha comunidade? Consigo dialogar com eles? Ou tenho receio de aproximá-los e tê-los como amigos e conselheiros? Por que? Valorizo essa vocação? O que – eu e minha família – poderíamos fazer para ajudar as vocações ao ministério ordenado?

 

Textos bíblicos: Sab 18, 6-9; ; Hb 11,1-2.8-19; Le 12, 32-48; Sl 32(33).