A Voz do Bispo › 05/04/2019

Atirar pedras

Ao iniciar a reflexão da pecadora perdoada lembrei-me desta parábola:

Um jovem e bem-sucedido estava dirigindo seu novo jaguar. Ele estava observando as crianças que estariam se lançando entre os carros estacionados e diminuiu um pouco a velocidade.

Enquanto passava nenhuma criança apareceu. Mas um tijolo se espatifou na porta lateral do jaguar. Ele freou bruscamente, pulou do carro, e pegou bruscamente uma criança e a empurrou contra um carro estacionado gritando:

– Que é isso? Quem é você? Que pensa que está fazendo? Este é um carro novo e aquele tijolo que você jogou vai me custar muito dinheiro. Porque você fez isto?

– Por favor me desculpe, eu não sabia mais o que fazer, ninguém estava disposto a parar e me atender neste local.

Lágrimas corriam de seu rosto e apontando para o local disse:

– É meu irmão, ele desceu sem freio e caiu da cadeira de rodas e eu não consigo levantá-lo. O senhor poderia me ajudar a recolocá-lo em sua cadeira de rodas? Ele está machucado e é muito pesado para mim.

Movido internamente, o motorista engoliu seco, levantou o jovenzinho, o colocou em sua cadeira de rodas, limpou as feridas e arranhões, verificando se tudo iria ficar bem.

– Obrigado e que Deus possa abençoá-lo, disse a criança.

O homem então viu o menino se distanciar empurrando seu irmão na cadeira de rodas em direção à sua casa. Ele nunca consertou a porta amassada para lembra-lo de não ir tão rápido pela vida, que alguém tivesse que atirar um tijolo para obter a sua atenção.

Deus sussurra em nossas almas e fala aos nossos corações. Tentemos ouvir o sussurro, não esperemos pelo tijolo. Uma alegria compartilhada se transforma em dupla alegria; uma dor em meia dor; um abraço dato numa incalculável paz. Não esperemos o tijolo ser atirado para perceber que muitas pessoas precisam de nossa ajuda, solidariedade, presença, perdão…

Aos escribas e fariseus, sempre prontos a julgar e condenar Jesus responde: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atira-lhe uma pedra”. Foram saindo um a um a começar pelos mais velhos. E disse à mulher: “Eu também não te condeno… de agora em diante não peques mais”.

A atitude de Jesus e a experiência dolorida do jovem nos estimulam à sensibilidade para com toda pessoa, a escutar os clamores que chegam de muitas formas até nós: da criança que pede socorro, do pecador arrependido de suas faltas, dos atingidos pelo tufão na África, das situações sociais que pedem por políticas públicas mais justas…

Que bom poder ver as pessoas como irmãos e irmãs nossas a amar e perdoar.

 

Para refletir:

– O que essa parábola do tijolo me ensina? Tem algo a aprender na minha relação familiar e circulo de convivência?

– E a parábola do Evangelho, que mensagem oferece na minha atitude para com quem me ofende ou despreza? Até quantas vezes consigo perdoar?

– O tema das Políticas Públicas tem algo a ver com as duas parábolas? Que correlação podemos estabelecer?

 

Textos Bíblicos: Is 43, 16-21; Jo 8, 1-11; Sl 125(126).

 

 

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