Artigos › 22/12/2020

2020: um ano que a solidariedade pulsou no coração da Igreja Católica no Brasil

A partir de fevereiro de 2020, as ações da Igreja Católica no Brasil foram duramente impactadas pela chegada do novo Coronavírus no país. A Campanha da Fraternidade, lançada no dia 26 de fevereiro, precisou ser repensada frente à necessidade de observar as exigências médico-sanitárias de distanciamento social como forma de impedir o avanço da pandemia. No mesmo dia em que foi lançada, o Papa Francisco divulgou mensagem especialmente aos brasileiros na qual afirmou que a superação da globalização da indiferença só será possível se nos dispusermos a imitar o Bom Samaritano. 

Contudo, o convite feito para olhar de modo mais atento e detalhado para a vida, com o tema “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” ressoou mais forte, ao longo de todo ano, com a organização pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Cáritas Brasileira da ação solidária emergencial: “É Tempo de Cuidar” para enfrentar os impactos da pandemia. Os verbos que foram o lema da CF 2020, “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), se traduziram, ao longo do ano, em inúmeras iniciativas adotadas pela Igreja no Brasil.

Para o bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portela Amado, a ação emergencial É tempo de Cuidar, embora nascida como uma resposta à pandemia sanitária e suas consequências, quer ser um passo a mais na caridade realidade pela Igreja no Brasil. “Em suas grandes linhas, estimula a solidariedade, sustenta diante do cansaço, impulsiona a criatividade, integra forças e robustece o testemunho”, disse.

“A opção por não se colocar de imediato um complemento ao cuidar, permitiu que a Ação Emergencial permanecesse aberta às diversas situações que surgissem a partir da pandemia e mesmo fora dela. Assim, podemos falar em cuidar dos enfermos, cuidar dos que experimentam a fome, dos solitários e, mais recentemente, até mesmo de Moçambique. É, portanto, uma ação aberta ao futuro. Os critérios permanecem: sustentar, impulsionar, articular, robustecer. A concretização ocorre de acordo com os sofrimentos que vão surgindo”, disse o secretário-geral da CNBB.

De acordo com a Cáritas Brasileira, organização que sistematiza e monitora os dados da campanha, o último balanço, de 15 de dezembro, aponta a marca de 5,8 mil toneladas de alimentos arrecadadas em 140 dioceses e arquidioceses brasileiras. Em recursos financeiros, a campanha atingiu R$ 4,5 milhões e meio. A campanha produziu e distribuiu para as populações mais vulneráveis cerca de 713 mil alimentos (quentinhas), arrecadou e distribuiu 675 mil unidades de roupas e calçados, 405 mil kits de higiene e 409 mil equipamentos de proteção individual.

Fonte: Cáritas Brasileira

Esses números conforme avaliação do membro do Comitê Gestor da Campanha e assessor da Cáritas Brasileira, Fernando Zamban, demonstraram o resgate de uma cultura de solidariedade adormecida na Igreja no Brasil que, com a situação da pandemia, se tornou mais pulsante na vida de cada cristão do nosso país. Trata-se, em sua avaliação, da maior ação de solidariedade da história recente da Igreja no Brasil.

Pessoas atingidas

O gráfico abaixo mostra o alcance da solidariedade da Igreja no Brasil neste tempo de pandemia. 475 mil comunidades carentes foram beneficiárias da ação emergencial solidária “É Tempo de Cuidar”. Entre os beneficiados, 190 mil desempregados, 71 mil pessoas em situação de rua, 33 mil indígenas, 52 mil povos e comunidades tradicionais, entre outros.

Fonte: Cáritas Brasileira

Ações de comunicação e mobilização

Para mobilizar o trabalho da Igreja no Brasil, a ação emergencial solidária “É Tempo de Cuidar” realizou uma série de ações de comunicação, entre elas um conjunto de lives, áudio-reportagens e matérias em programas da TV Aparecida.

As ações de comunicação discutiram diferentes aspectos do impacto da pandemia como os impactos da Covid-19 nos estados, na população negra e nas crianças, entre outros; Uma série de 4 lives aprofundou a história da Fome e o retorno do Brasil ao mapa da fome; O Pacto pela Vida e pelo Brasil, puxado pela CNBB em parceria com um conjunto de organizações da sociedade brasileira, também foi aprofundado numa série de 4 lives.

Criatividade e solidariedade pastoral

As ações em todo país demonstraram a criatividade e solidariedade dos cristãos católicos brasileiros. No monitoramento da Cáritas foram registradas 808 ações em todo território nacional. Como o exemplo do envio de 100 mil máscaras de tecido reutilizáveis para o regional Norte 2, que compreende os estados do Amapá e Pará, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. As máscaras  fizeram parte de um lote de 10 milhões de unidades doadas gratuitamente à população em todo país pelo projeto Heróis Usam Máscaras, coordenado pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME).  Tratou-se de uma ação decorrente de uma parceria entre o regional Sul 1 da CNBB e o Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME). O regional paulista participou na logística, desde a retirada, o transporte e a entrega ao Regional Norte 2.

A arquidiocese de Feira de Santana, na Bahia, por exemplo, deu início oficial à ação “É tempo de Cuidar” com a realização de um Drive-Thru solidário, realizado com a finalidade de receber doação de alimentos, produtos de limpeza, materiais de proteção individual, para atender famílias em situação de vulnerabilidade no território arquidiocesano.

O assessor do Setor de Ensino Religioso da CNBB, padre Eduardo Rocha, falou da experiência de escuta terapêutica organizada na paróquia da Catedral de Tubarão, onde é presbítero, na diocese de Tubarão, no sul do estado de Santa Catarina.  Segundo ele, desde o primeiro “lockdown”, no dia 18 de março, a paróquia começou a articular alguns trabalhos que se fizeram necessários e organizou sua ação em três linhas: a) arrecadação de alimentos; b) Organização de compra para idosos com os  jovens da paróquia e c) experiência da escuta. Na catedral de Tubarão, o padre informou que desde o dia 18 de março foram abertas três linhas fixas de telefone e um número de celular que funcionam de segunda a segunda com um grupo capacitado de padres, religiosos, psicólogos e voluntários para atender às pessoas. “Neste tempo, a procura tem sido muito grande”, disse o padre.

No gráfico abaixo, é possível ver quais os estados mais arrecadaram para a ação. O Rio Grande do Sul, seguido por Santa Catarina, foi a unidade da federação que mais arrecadou itens para a campanha. O pico de arrecadação segue o pico de avanço da pandemia. Os meses de maio, junho e julho marcam o período de maior arrecadação e mobilização da campanha concomitante ao avanço e impactos do Coronavírus no país.

Fonte: Cáritas Brasileira

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